São muitas as situações em que
nos deparamos com sacrifícios sobre o roque, justamente onde o rei
encontrava-se “protegido”, salvo de todas as ameaças oportunistas. No entanto,
nem sempre o roque é o guardião de todas essas ameaças indesejadas sobre o rei.
Se não houver o complemento da proteção efetiva de peças, evitar o avanço
desnecessário de peões, as debilidades tornam-se evidentes para o início de um
ataque fulminante. Técnicas como ataque duplo, sobrecarga, desvio e demolição
da estrutura de peões são algumas das artimanhas que um ataque ao roque pode
empreender. Portanto, aquele que se defende deve ter sempre em mente estas
situações, para que não entregue a partida tão repentinamente, sem ao menos
esboçar luta. Vejamos alguns exemplos:
No diagrama 1 (Zelevinsky x
Berevin, URSS 1957), vemos uma anormal estrutura de peões negra da ala do rei.
O avanço provocou debilidades que as brancas aproveitaram rapidamente. As duas
diagonais (a1-h8 e b1-h7) estão agora totalmente dominadas pelos bispos brancos
e a coluna f está sob o domínio da torre branca. Praticamente todas as peças
brancas concorrem para a investida final sobre o rei negro, exceto a torre de
a1, mas o arsenal disponível para o ataque já é suficiente. Vejamos o que
seguiu: 1. Bh7+! C:h7 2. T:f7!
(demolição) 2. ... R:f7 (Se 2. ... Cf8 3. Tg7+ Rh8 4. T:d7 com ganho
de qualidade) 3. D:h7+ Re6 4. Bc7! (liberação
da coluna e, com ganho de tempo) 4. ...
Dd7 5. Te1+ e as negras abandonaram em vista do mate com 5. ... Rf6 6. Ch5 ++.
Diagrama 1
Zelevinsky x
Berevin, URSS 1957
No diagrama 2 (Karpov x Kramnik,
Montecarlo 1998), a fase final já se instalou, mas as debilidades do roque
negro são sérias, o que leva as brancas a demonstrarem com o lance 1. Dc8!, as negras seguiram com 1. ... Tf8? (Mais resistência haveria
com 1. ... Dd2! 2. Dg4+ Rf8 3. Rg2 Dc7,
com considerável vantagem branca, mas ainda muito chão pela frente. Se 1. ... T:c8 2. T:c8+ Rg7 3. C:f5+ Rg6 4. Tg8+ Rh5 5. g4++) 2. Dg4+ Rh8 3. Tc8! (agora é a torre que toma ligar na
batalha), as negras se renderam tendo em vista que 3. ... T:c8 (3. ... D:a3 4.
Cf5 com mate em g7) 4. D:c8 Rg7 5.
Cf5+ Rg6 6. Dg8+ Rh5 7. g4 ++.
Diagrama 2
Karpov x Kramnik,
Montecarlo 1998
No diagrama 3 (Furman x Jolmov,
URSS 1963), outro final bem parecido com o anterior, só que agora a combinação
de Dama, Bispo e Torre sobre o roque adversário. Veja como a atividade das
peças concorre para que a demolição do roque adversário seja possível.
Obviamente que as peças negras (Dama, Torre e cavalo), não estão bem dispostas,
permitindo o assalto final. Furman seguiu com o demolidor 1. T:h6+ g:h6 (se 1. ... Rg8
2. Th8+ R:h8 3. D:h6+ Rg8 4. D:g7++) 2. Df5+ Rg8 3. Dg4+ Rf8 4. Dg7+ Re7 5. De5+ Rf8 ( se 5. … Rd8 6. Db8+ Re7 7. Bc5+ +-, ganhando a dama negra) 6. Bc5+ e as negras abandonaram, visto
que 6. ... Ce7 7. Dh8 ++ ou se 6. ... Rg8, perdem grande quantidade de
material.
Diagrama 3
Furman x Jolmov,
URSS 1963
Esses foram alguns exemplos de
ataque ao roque inimigo. Perceba, leitor amigo, que vários fatores contribuem
para isso: a atividade das peças, a debilidade da estrutura de peões adversária
e passividade e desconexão das peças de defesa. Inclusive esta última acaba
sendo vítima do próprio ataque, como vimos no exemplo do diagrama 3, onde a
dama e torre poderiam ser capturadas em algumas das variantes mostradas. Nesse
tipo de ataque há que se ter um pleno domínio do cálculo de variantes para não
desperdiçar as reais chances de ataque ou até mesmo perceber a necessidade de
agregar mais peças para que o ataque seja vitorioso. Há inúmeros outros casos
onde aquele que empreende o ataque valoriza mal a posição e colhe pesada
decepção quando percebe que nada levou os demasiados sacrifícios feitos,
restando inclusive abandonar a partida. Outras tantas situações podem ser
remediadas com um salvador cheque perpétuo ( Veja a postagem anterior,
onde Dubov, apesar da grande maestria, foi confrontado com uma tenaz defesa do
seu adversário, restando buscar o salvador cheque perpétuo.
Ao leitor amigo deixo meu conselho: especialize-se em
tática, lendo as literaturas disponíveis, resolvendo os exercícios propostos
nos livros e, com certeza, colherá frutos. Não que a tática norteie seu
caminho, isso vai muito do estilo de cada jogador, mas saber enfrentar esses
momentos, tanto na defesa quanto no ataque, poupar-lhe-á tempo precioso no
relógio, além de desenvolver esse instinto tático tão necessário para um bom
enxadrista.
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